terça-feira, novembro 25, 2014

A coisa mais triste

Não quero chafurdar em tristeza. Não há praticamente nada bom em fazê-lo. Mas esta questão é relevante, e talvez a sua consciência possa melhorar a vida de outras pessoas. A deficiência pode trazer um tipo muito especial de solidão. Não é que ser deficiente implique em não ter amigos, embora isso também possa acontecer. A solidão de eu estou falando é muito mais profunda. Tanto assim, que se não for reconhecida, realmente pode destruir a vida de alguém.

O que significa estarmos juntos? Quais são as razões por trás da nossa natureza social e atração quase constante em direção a outras pessoas?

Talvez tudo isso surja de nossas necessidades básicas de origem primitiva, tais como comida, sexo e abrigo. Nós somos uma das espécies que mais se apoia nas estruturas sociais para que essas necessidades sejam satisfeitas. Nos primórdios da nossa espécie (e hoje só seria diferente com uma arma de fogo), um único caçador humano era um alvo muito fácil para os predadores mais bem equipados fisicamente. Não só isso, mas estes caras também seriam presa fácil de outros seres humanos. Concorrência perfeita intraespécie enfraqueceria toda a humanidade, tonando-a mais fraca e mais propensa a extinção.

Mas nossos cérebros enormes nos permitiram desistir dessa ideia de guerra total e unir forças, fazendo dos grupos sociais poderosas máquinas multiuso. De certa forma, as pessoas perceberam que os resultados da luta contra o meio ambiente e outros homens ao mesmo tempo trazem benefícios médios menores do que colaborar.

Mas isso tudo aconteceu há milhares de anos. E quanto a nós? Como nos relacionamos uns com os outros nessa sociedade altamente especializada? Talvez toda essa sofisticação que temos hoje seja apenas a evolução histórica natural de uma máquina de caça muito bem azeitada. Pode ser que os princípios básicos que nos fizeram permanecer unidos ainda estejam por aí. Quem sabe eles só tenham uma aparência externa diferente, exatamente por causa de toda essa sofisticação e complexidade.

De qualquer forma, parece-me que o ingrediente mais importante para que estes sistemas sociais funcionem é que os indivíduos tenham a capacidade de se enxergarem uns nos outros e em toda a sociedade. Quando alguém se vê em outra pessoa, já não há duas entidades completamente diferentes. Essas pessoas se tornam um novo organismo, que irá buscar satisfazer suas próprias necessidades, satisfazendo aquelas individuais por tabela.

Isto é verdade para um grupo de amigos, para uma família, uma cidade ou mesmo um país. Em todos esses casos, as pessoas precisam se identificar umas com as outras para que possam colaborar para alcançar objetivos comuns. A confiança floresce da consciência de que a pessoa na minha frente tem sentimentos, desejos e necessidades semelhantes às minhas, gerando empatia. Então teremos um denominador comum sobre o qual construir uma existência coletiva, que é muito mais interessante e mais rica do que a que cada um dos indivíduos poderiam criar de forma isolada.

Vínculos interpessoais são mais fortes quando as pessoas têm um contexto comum maior. Isso pode maximizar o alinhamento e fazer do acordo algo mais natural. Não é impossível ter um bom amigo que vive uma vida totalmente diferente da sua. Mas neste caso, a identificação e a troca podem ser limitadas e assimétricas, criando laços mais fracos (pelo menos em termos de amizade). Isso também é verdade em termos de distância física. Geralmente é muito mais fácil manter a amizade com pessoas que estão fisicamente próximas de nós. Isso aumenta a percepção de disponibilidade que temos delas, e amplia o contexto comum que temos uns com os outros. Muitas vezes duas pessoas são amigas próximas durante a escola e se afastam mais e mais à medida em que se envolvem em ambientes sociais diferentes.

Além da proximidade física, experiências comuns são extremamente importantes para a construção de afinidade. Talvez por causa do caráter evolutivo mencionado acima, as pessoas tendem a se sentir mais seguras e mais felizes quando podem compartilhar suas experiências. Não necessariamente porque os outros possam realmente fazer algo sobre um problema que estamos enfrentando (apesar de que este também pode ser o caso). Mas porque partilhar nos faz sentir mais fortes e mais capazes de enfrentar qualquer problema.

Isso pode ser uma boa explicação de por que as pessoas com deficiência, mesmo reabilitadas, podem se sentir tão mal e solitárias. Mesmo estando em condições muito melhores do que absoluta maioria das que nunca passaram por esse processo. Reabilitação é um trabalho árduo. Dói, pode sugar toda a sua energia, mas geralmente produz uma grande melhora funcional em comparação com não fazer nada (dependendo da natureza da condição subjacente).

O problema é que somos seres sociais. Raramente ter um desempenho melhor nas atividades diárias é suficiente. Executá-las de forma diferente da maioria das pessoas (no tempo ou maneira) significa perder a possibilidade de compartilhar experiências semelhantes. É claro que é melhor para uma pessoa ser capaz de caminhar mais lentamente e com uma bengala do que não ser capaz de fazê-lo. Seria muito estúpido não reconhecer isso. Mas esta perspectiva positiva não leva em conta as necessidades sociais. Cria-se a experiência surreal de ser um enorme sucesso e ao mesmo tempo um retumbante fracasso. A tese da "mera questão física" pode ser descartada neste exato momento. Alguém pode ser inteligente o suficiente para desempenhar todas as tarefas intelectuais que costumam resultar em algum grau de sucesso material. Mas há a questão do denominador comum. Ainda que essa pessoa possa, teoricamente, realizar todas as atividades necessárias para ocupar um certo cargo, ficam de fora as questões de percepção e também a parte da auto-motivação.

Isso se soma à qualidade desigual do mundo em que vivemos. Realmente é possível treinar uma pessoa um tanto deficiente para executar todas as tarefas necessárias para viver uma boa vida em sociedade. Mas o fato é que isso sempre será feito de forma diferente e, portanto, não haverá uma identificação e isso criará uma lacuna que, teoricamente, não necessariamente precisaria existir. Em outras palavras, a pior coisa da deficiência pode não ser a própria deficiência, com todas as suas dores e dificuldades. Pode muito bem ser a solidão. Porque talvez você seja capaz de fazer muitas coisas, mas ao mesmo tempo você ainda é muito diferente. Sua vida é muito diferente e por isso você não pode realmente ver-se nos outros e, geralmente, eles não podem se ver em você.

Fazer um esforço enorme para ser capaz e a capacidade propriamente dita são apenas uma pequena parte do caminho. O resto, embora fisicamente possível acaba sendo socialmente inatingível. Este é o paradoxo de reabilitação. E, na minha opinião, é a coisa mais triste da deficiência.

Reativando

Nada mais natural que um sujeito trabalhando com línguas tenha um blog em cada uma pra facilitar a vida de todo mundo. Esse aqui vai ser a versão em português. Não prometo traduzir tudo o que escrevi no Disability Matters, mas vou tentar mantê-los mais ou menos pareados. :)

quarta-feira, novembro 12, 2014

Disability matters. A learning journey.



Everybody believes knowing what disability is.That's probably where the problems begin. A completely different disability paradygm was created in the late 70's and early 80's. But general population still holds to the older conceptions of it. Disability is still often considered as an individual tragedy. Something destiny only brings to some less fortunated people. In other words, something to be tackled individually. This blog is aimed at destroying this misconception. Read more at vaphil.blogspot.com