sexta-feira, agosto 14, 2015

A primavera da direita Brasileira

As pessoas que me conhecem, sabem exatamente qual é a minha posição política. E eu poderia escrever um ensaio dizendo exatamente tudo que se espera que eu diga na atual conjuntura. Mas eu quero fazer isso de uma maneira mais produtiva, se conseguir.

É que as discussões têm se polarizado cada vez mais desde as últimas eleições presidenciais, e acho que apesar de a Marina Silva não ser uma alternativa viável a esse processo, isso não quer dizer que esta alternativa não seja necessária.

Concordo plenamente com o artigo do Prata na Folha de hoje. Acho que essas manifestações, ainda que lícitas à luz da liberdade de expressão, são resultado de uma profunda falta de compreensão da diferença entre a vontade de um grupo social dominante e a validade do processo democrático.

Mas ao invés de encerrar a conversa aí, eu quero ir um pouco além. Quero entender a agenda e o sentimento dessas pessoas de uniforme do Brasil que vi perambulando pelos arredores da minha casa. O problema pra eles é a corrupção? Estamos juntos! Acho que isso é uma mazela do poder público que tem que ser combatida de maneira exemplar. Porém acho que as semelhanças acabam aí.

Porque ao contrário dessas pessoas, eu não desprezo as instituições do país a ponto de sugerir a impugnação do resultado do último pleito, ou de querer se mudar pra Miami porque este resultado não foi o que queriam. Também ao contrário deles, eu não acho que o modus operande do governo federal seja tão diferente daquele utilizado há mais de 20 anos no Estado de São Paulo por aqueles que os de camisa da nike consideram como a gloriosa resposta a todos os males da nação.

Não gosto particularmente da Presidente e não concordo com inúmeras medidas do executivo federal, a começar pela escolha dos ministérios. Porém me parece de uma ingenuidade um tanto quanto espantosa que algumas pessoas de esquerda considerem que algo muito diferente fosse possível (dadas as alianças feitas nas eleições) e que a direita imagine que poderia fazer um trabalho tão melhor caso tivesse chegado ao planalto (a memória é mesmo tão curta assim?).

Como minoria discriminada ativa ou passivamente nos círculos sociais que frequento, fica muito fácil observar o quanto essa revolta tem em comum com uma certa nostalgia de tempos em que os privilégios herdados de fato permitiam garantir e validar sua própria manutenção. Hoje o discurso é menos escancarado, até porque este tipo de posição remanescente do nosso vergonhoso passado escravocrata já não pega bem publicamente.

Mas ele está longe de ter sido extinto. Na verdade, assim como a discriminação às minorias no país, ele apenas se tornou mais sutil. Travestido de um macio espírito liberal de cunho protestante, reluta-se fortemente em aceitar que o amadurecimento da democracia por aqui, ainda que lento e cheio de vicissitudes, acabou de fato por mitigar um pouco do abismo social que nós da elite crescemos considerando como inevitável. Pudera. Nossos apartamentos de classe média eram sempre equipados com dependências de empregada.

Será que falta boa fé, inteligência ou conhecimento pra entender que a lógica da corrupção é exatamente a mesma que permite a manutenção de quaisquer privilégios? Ou seja, que permite que pessoas com acesso privilegiado à gestão da coisa pública direcionem suas iniciativas à defesa de seus próprios interesses? Será que não falta reconhecer que os próprios méritos de que tanto se orgulham e ostentam em relação ao sucesso na carreira e uma renda muito mais alta que da grande maioria da população tem muito menos de mérito e mais de sorte e vantagem inicial?

quinta-feira, julho 23, 2015

Abuso de poder em diversos sabores

Os brasileiros, especialmente os de classe média-alta, acham que nosso país é muito especial pelas coisas absurdas que acontcem por aqui. Geralmente eu discordaria, e atribuiria esta percepção a uma visão de mundo ecocêntrica e uma ignorância ilimitada a respeito dele (ir pra Miami torrar dinheiro não conta como ver o mundo na minha opinião)

Mas eu realmente acho que temos características peculiares por aqui (discordando sem grandes bases do livro do meu avô sobre a inexistência do conceito de caráter nacional). Mas ao contrário dele, eu não pretendo me tornar catedrático da USP (também não sei se deficientes chegam a tais alturas), então posso especular à vontade.

Pra mim somos paradoxos ambulantes. Temos os menores biquinis do mundo, além dos métodos de depilação que são usados em conjunto. Ambos são famosos no mundo todo. A sensualidade da mulher brasileira é como se fosse um produto tipo exportação. E ainda assim estamos muito acostumados a julgar e condenar moralmente as mulheres que têm uma vida sexual ativa. 

Isso me leva a pensar que não valorizamos a beleza insinuante das brasileiras. Tratamos esse predicado como um produto de consumo masculino, objetificando as mulheres. Ao invés de dar poder às mulheres, a beleza delas se torna mais uma sórdida prisão (ainda que com uma linda vista).

Assim como os traseiros das moças em nossa costa ensolarada, os preconceitos também estão à mostra por aí, apesar de uma certa sensação de inferioridade e vontade de agradar os outros (é vô, de novo a história do homem cordial...) O curioso é que essas contradições constantes criam anomalias, como a nossa extrema direita. Esses caras são a condensação perfeita de tudo que há de escroto na nossa cultura. Tanto que um deputado federal reeleito chamado Jair Bolsonaro teve a pachorra de dizer abertamente que não estupraria uma colega congressista porque ela não merece (insinuando que ela não é atraente o suficiente para que ele se sentisse suficientemente motivado).

Nesse caso eu acho que o fulano foi um pouco longe de mais. Talvez as pessoas digam isso no Sudão. Mas trata-se de uma zona de guerra, e todo mundo sabe que estupro e assassinato são práticas comuns nessas circunstâncias. Não me parece o caso no congresso nacional. M as na minha opinião, o abuso de poder acontece em todo lugar. Ele assume formas e cores diferentes, mas na verdade é sempre o mesmo velho fenômeno. Pode ocorrer em empresas do mais alto gabarito, praticado tanto por homens quanto por mulheres, no congresso ou em um campo de batalha.

Algumas pessoas se esforçam muito pra entender como o holocausto aconteceu na Europa há mais ou menos 75 anos. Outros têm a cara de pau de negar a existência dessa tragédia (o que não só é uma conduta estúpida dada a quantidade de provas irrefutáveis do que aconteceu, como também desprezível). 

Não estou mínimamente interessado nos últimos. Pra mim eles podiam todos falecer rapidamente, para nossa alegria. Para os outros, aqueles que não entendem o que aconteceu, a minha resposta simples é a sede de poder. Ela está sempre rondando e é altamente recompensada pela nossa sociedade porque retroalimenta a lógica de manutenção do sistema tal como é hoje: cria mais riqueza para aqueles que já são ricos, mantendo o status quo. Alimenta a discriminação que por sua vez justifica a desigualdade sem criar uma guerra.

Tenho certeza absoluta de que as pessoas sedentas por poder foram muito úteis em algum lugar na nossa história evolutiva. Mas agora elas são provavelmente a maior ameaça de riscar a humanidade da face da Terra por serem fundamentais na manutenção de desequilíbrio em escala planetária, pensando somente no próprio benefício delas. Então a menos que as pessoas que detestam o poder resolvam fazer alguma coisa a respeito, essa corja vai conseguir exatamente o que deseja, custe o que custar ao resto de nós.