quarta-feira, julho 12, 2006

Direito à morte

A morte é certamente uma das grandes questões da humanidade. Aliás a definição de ser humano compreende a consciência. E a principal consciência humana diz respeito a saber de sua própria existência e finitude inevitável. Mas apesar de ser um fenômeno absolutamente inescapável e intrínseco à vida, a idéia da morte permeia o imaginário social de uma maneira bastante particular. Mesmo para as mais sofisticadas e avançadas sociedades modernas, os dez mandamentos ainda representam uma fonte natural e pertinente de regramento de conduta. “Não matarás.” A convenção social de não tirar a vida de outrem é mesmo algo que foi necessário ao convívio em grupos progressivamente maiores ainda que as razões que fundamentam tal princípio sejam bastante difíceis de se exprimir (como todo bom conhecimento tácito). Mas e o suicídio? Qual seria o motivo racional pelo qual se condena e repudia de maneira tão inexorável esse tipo de atitude? Acho interessante a figura do suicida. Não que me matar seja algo que eu faria. O ato de tirar a própria vida parece completamente não natural, já que a sobrevivência é a primeira razão de tudo que vive. Ao mesmo tempo a literatura e a história estão repletos dessas desesperadas personagens (de Werther a Romeu e Julieta). Talvez por isso se possa dizer que o suicídio é um dos fenômenos mais eminentemente humanos que existem, assim como a consciência (de que certamente se alimenta). De qualquer maneira, apesar de insistir em interferir nessas questões de foro íntimo, a ingerência do Estado sobre essa decisão se aproxima da nulidade. Afinal, não existe nada que se possa fazer para se proteger alguém de si mesmo, certo? É portanto claro que aqueles imbuídos de um elã suficientemente forte para acabar com a própria vida acabem por conseguir alcançar seu intento. A não ser que a pessoa não tenha condições físicas de fazê-lo, como no caso de um tetraplégico ou de alguém com uma lesão séria no córtex motor ou ainda alguém que esteja inconsciente. Essas circunstâncias especiais em que a vontade não possui capacidade de ação mostram um dos abismos do arcabouço de normas que os homens criaram para o seu convívio.

2 comentários:

Anônimo disse...

Vamos tentar postar isso aqui...
Não vou escrever muito por dois motivos:
1. eu já disse o que acho
2. Se não der certo, minhas palavras se perderão no espaço virtual que eu tanto abominei!

Mas basicamente é isso. Muito bem escrito. Talvez um tanto deprimente... Mas não muito. a ponto de provocar telefonemas de longa distância.
Agora vamos ver se vai.

Anônimo disse...

e agora entendi porque tinha esse nome ceticonodiva, que me pareceu tão estranho!